Uma das maiores famas da Alemanha, que a persegue pelo mundo todo, é a da boa cerveja. É quase impossível pensarmos no país sem o relacionarmos com a cerveja de qualidade e pensar em um alemão de roupa típica bebendo uma caneca de chopp. Estereótipo ou não, a cerveja é sim um item cultural importante por aqui.
Para os amantes de cerveja, provavelmente uma das primeiras frases a ser aprendida no idioma é “ein Bier, bitte!” (uma cerveja, por favor). Então aqui vai outra dica: a palavra “Bräu” atrás de quase todo nome de cervejaria alemã significa justamente “cervejaria”, e se lê: brói.
Um pouquinho de história
A bebida sempre foi considerada no país como um alimento, frequentemente chamada de “pão líquido”. Por essa importância que ela tinha, foram começando a surgir algumas leis que tentavam regular sua qualidade, como a decretada em 1156 em Augsburg, primeira de que se tem conhecimento, determinando que nenhum taverneiro poderia servir cerveja de má qualidade e em medida desleal, e punia quem a descumpria confiscando seus barris de cerveja.
Esses decretos tinham como principal preocupação evitar que a bebida fosse produzida com matéria prima duvidosa, já que na época os mestres cervejeiros testavam uma série de ingredientes para variar o sabor da bebida, muitos deles bem duvidosos, como cascas de árvores, tubérculos, cogumelos e o Gruit (uma mistura de temperos e ervas). Alguns desses ingredientes poderiam ser venenosos ou alucinógenos, o que resultava em consumidores doentes e, em muitos casos, correndo perigo de vida.
Além disso, outro problema começou a surgir em Munique: o consumo e produção de cerveja era tão grande, que acabou encarecendo muito o valor do pão, já que o trigo, a aveia e o centeio eram ingredientes em comum tanto de um quanto do outro.
Várias outras cidades alemãs foram criando decretos que falavam sobre a produção ou a venda da cerveja, como em Nuremberg (1293), em Weimar (1348), em Weißensee/Thuringia (1434) e em Munich (1363).
Em 1447, começou-se o esboço de uma lei, que foi continuada em 1487 pelo Duque Albrecht IV, determinando os três ingredientes que poderiam ser usados na produção da bebida: apenas água, malte e lúpulo (ingrediente que substituia o Gruit, acabava com o problema das ervas venenosas e alucinógenas, e ainda servia de conservante da bebida).
Reinheitsgebot – A Lei da Pureza da Cerveja
Em 23 de Abril de 1516, o duque Guilherme IV da Baviera (em alemão, Wilhelm IV), decretou a Reinheitsgebot, em português Lei da Pureza, um dos mais antigos decretos alimentícios da Europa e a mais antiga regulamentação alimentícia ainda vigente.
A lei abordava três aspectos: 1) protegia os cidadãos contra preços injustos, dizia por quanto os cervejeiros podiam vender certa quantidade de cerveja. 2) proibia o uso do trigo para a produção da bebida, garantindo que ele fosse utilizado para fazer o pão. 3) permitia o uso de somente três ingredientes: água, lúpulo e malte.
A levedura, o fermento da cerveja, foi adicionada mais tarde, depois dos estudos de Louis Pasteur no século 19.
Conquistados pela qualidade da cerveja bávara, outras províncias foram adotando a Reinheitsgebot, até que em 1906 ela começou a ser válida para toda a Alemanha.
Hoje as práticas do Reinheitsgebot são consideradas herança culinária da Europa pela União Europeia, que protege culturalmente cervejas como a Bavarian Beer, Bremer Beer, Kölsch e Munich Beer, todas cervejas únicas e específicas de regiões da Alemanha.
Desde 1987, cervejas produzidas fora da Alemanha e que não seguem o Reinheitsgebot podem ser vendidas no país. Ainda assim, a lei ainda tem uma alta aceitação, principalmente entre os jovens (89% diz apoiar totalmente a Reinheitsgebot, segundo pesquisa do Forsa Institute!).
A lei ainda existe, mas com as regulamentações da União Europeia, já não são todos que a seguem. Mesmo assim, a maioria prefere continuar seguindo as prescrições do Reinheitsgebot, consideradas garantia de qualidade.
Apesar da limitação a apenas quatro ingredientes, é possível a produção de milhares de tipos de cerveja, já que existem mais de 40 tipos de malte, mais de 100 tipos de lúpulo e mais de 200 tipos de levedo. Não dá para ficar entediado, né!
As cervejarias tradicionais de Munique
Berço da Reinheitsgebot, a Baviera tem até hoje uma forte tradição no que diz respeito à cerveja. As cervejarias são respeitadas não só aqui, mas reconhecidas mundialmente. Mas por trás da qualidade das cervejas alemãs está não só a Lei da Pureza da Cerveja, mas também séculos de história.
As cervejarias mais tradicionais aqui de Munique são seis, inclusive são as únicas que têm tendas na Oktoberfest, por exemplo (para entender melhor como funciona a Oktoberfest clique aqui). São elas: Augustiner, Hofbräuhaus, Paulaner, Hacker-Pschorr, Löwenbräu e Spaten.
Augustiner
A Augustiner é a cervejaria mais antiga de Munique, com aproximadamente 700 anos! Foi fundada no início do século 14 e em 1328 foi nomeada Augustiner. No início, era produzida por monges, no local onde hoje funciona o restaurante Augustiner Klosterwirts.
No início do século 19, o local de produção da cerveja mudou-se para a Neuhauser Straße, a principal rua de pedestres do centro de Munique, que conecta a Marienplatz com a Karlsplatz. Nesse local hoje funciona um dos mais concorridos restaurantes da Augustiner, o Augustiner-Gaststätte.
Em 1829, a família Wagner adquiriu a cervejaria do Estado e é do filho do casal, Joseph Wagner, que gerenciou a empresa por algum tempo, as iniciais no brasão na logo da Augustiner.
A Augustiner era a cerveja servida aos duques de Wittelsbach, uma das famílias reais alemãs mais antigas, até que eles criassem a sua própria cervejaria em 1589, a Hofbräuhaus.
Outros locais para beber uma Augustiner: vale a pena conhecer o biergarten Augustiner Keller, bem pertinho da Hauptbahnhof e da ZOB (Estação Rodoviária de Munique); e um dos maiores biergartens de Munique, no Hirschgarten, que também oferece a cerveja da marca.
Hofbräuhaus
No local de residência da família Wittelsbach, no Alter Hof, é que foi fundada a Hofbräuhaus. Em 1808, a cervejaria mudou-se para o local onde hoje funciona o mais famoso restaurante da marca, o prédio no Platzl, construído há mais de 500 anos e onde, até pouco mais de 100, ainda funcionava a produção de cervejas.
Até hoje a Hofbräuhaus é propriedade do estado da Baviera!
Algumas curiosidades sobre o turístico restaurante no Platzl é que existem mais de 100 grupos regulares, os chamados Stammtisch, sendo que o mais antigo tem 70 anos. Em uma parte do restaurante, olhando para a esquerda depois de entrar, dá para ver as centenas de canecas personalizadas que pertencem a esses grupos. O local oferece música típica ao vivo todos os dias.
Também é possível fazer um tour pela cervejaria, em alemão, inglês ou italiano. O tour dura de 1 hora a 1 hora e meia e custa 10€, ou 15€ se você preferir com refeição inclusa. O passeio é oferecido de segunda a quinta-feira às 10h e 13h. Em agosto, durante a Oktoberfest e uma semana antes e uma depois do evento não há tour.
Outros locais para beber uma HB: o biergarten da Torre Chinesa no Englischer Garten é, juntamente com o do Hirschgarten, o maior de Munique. (Clique aqui para ver uma sugestão de passeio no parque, visitando o biergarten da Hofbräuhaus.)
Hacker-Pschorr
Surgiu em 1417, como Pschorr, onde hoje fica o restaurante Altes Hackerhaus. O casamento do dono, Joseph Pschorr, com Theresia Hacker, transformou a cervejaria em Hacker-Pschorr. Juntos, o casal transformou a empresa em uma das principais cervejarias de Munique no século XVIII. Depois que passou para o comando dos filhos, foi novamente dividida e permaneceu por muito tempo assim, até aproximadamente 40 anos atrás, quando voltou a ser uma só.
A Hacker-Pschorr é bem popular, principalmente no verão, quando o pessoal leva a sua cerveja para beber em lugares públicos, já que ela tem uma abertura bem fácil, com tampa de clipe.
Outros locais para beber sua Hacker-Pschorr: no restaurante Der Pschorr no Viktualienmarkt ou na ponte Hackerbrücke, como na foto.
Löwenbräu
Não se sabe bem ao certo a data da sua fundação, mas a primeira vez que a Löwenbräu foi documentada foi em 1524. Na época ficava na Löwengrube, no centro de Munique, bem próxima à Frauenkirche. Depois de pouco mais de 300 anos mudou-se para o local onde fica atualmente, na Nymphemburger Straße.
Depois de muita negociação, em 1848 a cervejaria conseguiu permissão para fabricar a Löwenbräu Bockbier, tornando-se a pioneira no setor de cervejas fortes (em alemão Starkbier).
No século XIX se transformou na maior cervejaria da cidade de Munique e foi a primeira, em 1928, a produzir mais de 1 milhão de hectolitros (1 hectolitro = 100 litros). Desde 2004 pertence à InBev e hoje pode ser encontrada em mais de 50 países.
Você também pode visitar a cervejaria da Löwenbräu, toda primeira sexta-feira do mês e todo sábado. O valor é de 21€ por pessoa com degustação de cerveja, brezel e leberkäse. Você pode agendar sua visita pelo site.
Onde beber sua Löwenbräu: o restaurante mais popular e tradicional da Löwenbräu fica no mesmo local da cervejaria, o Löwenbräukeller. A tenda da Löwenbräu na Oktoberfest também tem fama de ser uma das mais jovens e animadas.
Paulaner
Mesmo também sendo bem antiga, a Paulaner é a mais nova das cervejarias tradicionais de Munique. Fundada em 1634, era originalmente produzida por monges, para ajudá-los com a suas despesas. O primeiro documento que comprova a sua existência também atesta seu sucesso: uma carta das cervejarias privadas da época ao Conselho da Cidade, reclamando que a cerveja dos monges estava vendendo muito e atrapalhando os negócios.
A primeira cerveja produzida pela marca foi a Salvator, vendida até hoje com a mesma receita criada em 1773 pelo monge conhecido como Irmão Barnabas. Em 1837, o rei Ludwig I declarou essa cerveja um item de luxo!
Atualmente, a sede da cervejaria fica na Paulaner Nockherberg, local que vale a visita, conta também com um restaurante e um biergarten.
Outros locais para beber sua Paulaner: bem próximo à Marienplatz, no restaurante típico Spöckmeier ou no evento anual Starkbierfest, o Festival da Cerveja Forte, que acontece lá na sede da cervejaria.
Spaten
Talvez a menos conhecida de todas as cervejarias tradicionais aqui da cidade, a Spaten surgiu em 1397, numa das principais ruas do centro de Munique, a Neuhauser Gasse. Desde 1851 até hoje, está na Marsstraße.
O nome veio da família proprietária da cervejaria de 1622 a 1704. Em 1807, o cervejeiro do rei Gabriel Sedlmayr começou a comandar a empresa, que na época era uma das menores cervejarias de Munique, e em 60 anos a transformou em uma das maiores, modernizando a produção.
A Spaten foi a primeira cervejaria da cidade a produzir Pilsen e Helles. Hoje o grupo Spaten-Franziskaner-Löwenbräu pertence à InBev.
Locais para beber sua Spaten: no restaurante na própria sede da cervejaria ou com um jantar requintado e com vista para a Ópera Estatal da Baviera no Spatenhaus an der Oper.
Franziskaner
Resolvi incluir a Franziskaner na lista, já que ela é bem conhecida no Brasil, e também bem tradicional aqui na Alemanha.
A Franziskaner foi mencionada pela primeira vez em 1363, em um documento que falava sobre a cervejaria do Mosteiro Franciscano perto do Residenz de Munique (na Odeonsplatz).
Dali pulamos para o ano 1861, quando o filho do Gabriel Sedlmayr (o da Spaten), torna-se o único proprietário da Franziskaner.
A Franziskaner começou a ser vendida em toda a Alemanha somente em 1984, antes disso era comercializada apenas na Baviera. É considerada uma das três melhores Weissbier do país.
Onde beber sua Franziskaner: entre a Marienplatz e a Odeonsplatz, no charmoso Zum Franziskaner.
Pela minha experiência aqui, pelo que ouço falar dos alemães que eu conheço, a preferidinha dos Muniquenses é a Augustiner. Eu adoro as Weißbier da Paulaner e da Franziskaner! E qual a sua cerveja preferida?
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*A esmagadora maioria das informações contidas nesse post foram retiradas do site Reinheitsgebot e dos sites oficiais das próprias cervejarias.
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