Quais os maiores desafios em morar fora do Brasil?

Há alguns meses fiz algumas perguntas lá no meu instagram por curiosidade em saber as intenções de vocês sobre morar ou não fora do Brasil, onde vocês gostariam de viver e sobre as dificuldades que vocês acham que encontrariam. E para quem já mora fora do país, ainda perguntei qual é o real desafio que eles enfrentam no dia a dia.

Tanta gente interagiu e as respostas foram tão diversas que decidi escrever um post aqui para o blog, falando desse que é um dos temas que nós pensamos já no começo do nosso planejamento de morar no exterior – e que muitas vezes nos impede de concretizar esse objetivo ou nos faz mudar de ideia.

Quando eu escrevi sobre meus dois primeiros anos morando aqui na Alemanha, eu já falei sobre as dificuldades que enfrentei nesse segundo ano. Mas como essa é uma pergunta recorrente e um tema importante na decisão de morar fora do Brasil ou não, lá vou eu de novo!

Uma das respostas que mais me chocou logo de início foi o fato de saber que 97,6% dos meus seguidores gostaria de morar fora do Brasil! Apenas duas pessoas responderam que não tem interesse em sair do país, o que mostra o interesse em conhecer novas culturas, que acho muito legal, mas também me preocupa pela romantização da vida no exterior.

A segunda surpresa veio quando perguntei sobre preferência de locais para morar fora e a maioria preferiria morar na Europa a morar nos Estados Unidos, 76% contra 24%. Eu sempre pensei que o brasileiro ama os Estados Unidos e a prioridade seria mudar-se para lá. Enfim, surpresa boa! Considero as possibilidades de imigração aqui na Europa muito melhores do que nos Estados Unidos e o estilo de vida é bem diferente do Brasil, o que nos faz enxergar as coisas de outro modo e evoluir como pessoas, carregando nossa bagagem trazida do Brasil e misturando os nossos com os hábitos do povo europeu. Resultado parecido foi a da pergunta entre morar na Europa e na Austrália.

E agora vamos falar sobre a motivação de eu fazer todas as perguntas para o pessoal lá do instagram. Uma pergunta que recebo frequentemente e uma das coisas que é impossível não pensar na hora de planejar mudar de país: quais serão as minhas dificuldades morando fora?

E a grande verdade é que eu não sei. Eu sei sobre as minhas dificuldades, mas elas são bem específicas de acordo com a minha personalidade e o meu histórico. Por isso posso falar sobre a minha experiência e das pessoas que eu conheço, mas vale você se avaliar, pensar nas dificuldades que você já sente no dia a dia no Brasil, tentar se imaginar na situação de morar em outro país, pesquisar muito sobre a vida lá (internet tá aí pra isso: leia muito blogs, veja vídeos; e muito importante, busque informações nos sites oficiais de consulados).

E foi também por isso que quis ouvir dos meus seguidores sobre os medos e as dificuldades deles. Aqui foram os pontos que apareceram e em seguida, vou analisar as respostas de quais eram as expectativas da maior dificuldade em morar fora e qual realmente é a maior dificuldade.

Seção de hortifruti em um supermercado.

1 – Hábitos de consumo

Bom, naturalmente que estando em outro país e, inclusive, em outro continente, vai levar um tempo até você experimentar novas marcas, novos produtos e encontrar ou substituir coisas que você estava acostumado a comprar no Brasil.

Eu diria que o início é difícil, mas mais por razão do idioma. Se você ainda não tem noção do idioma e nunca esteve no país, tudo o que você vai comprar precisa ser checado e traduzido para ter certeza se o que está comprando é o que precisa. E isso toma algum tempo.

Mas se acha tudo aqui na Alemanha, gente! Os preços são ótimos para quem mora aqui, o poder de compra é proporcional ao salário (ou seja, muito melhor que no Brasil) e em uns 2, 3 meses você já acostumou com as marcas daqui e já sabe aonde ir para comprar cada coisa.

Os mercados e as drogarias atendem muito bem a demanda para casa, tem lojas grandes de eletrônicos, muitas lojas de roupas de marcas já conhecidas nossas e o que você não acha em lojas físicas, você encontra na internet (nossa queridinha Amazon).

Dinheiro: preocupação responsável.

2 – Dinheiro

Excelente ter essa preocupação! Além de ser uma decisão que precisa ser bem pensada pelo lado psicológico, essa é também uma decisão cara e, por isso, deve ser muito analisada também pelo lado financeiro.

Se você planeja mudar para outro país, o primeiro conselho que eu daria é: comece a economizar. A mudança é um investimento, assim como fazer uma faculdade ou comprar um apartamento, você gasta um bom dinheiro por algo que quer receber em troca lá na frente.

Mas é sempre bom ter os pés no chão e esquecer essa ideia de simplesmente largar tudo no Brasil e mudar de país de súbito. Economize. Os últimos meses no Brasil exigem um gasto maior com documentação, passagem aérea e o primeiro ano aqui exige um gasto grande com aluguel, caução, móveis, utensílios para a casa e roupas, principalmente.

Antes de mudar ou, no máximo, logo que chegar, converse com algum contato seu na cidade que você escolheu para ser sua nova casa e peça dicas de tudo que você acha que convém (pode ser um colega de trabalho ou um brasileiro de algum grupo que você participa, por exemplo). Às vezes por ignorância, gastamos dinheiro à toa.

Para te ajudar, eu já escrevi um post com os gastos de Munique aqui.

Quanto mais preparado você estiver, menos medo você vai sentir e mais você vai conseguir tomar decisões baseadas na razão, sem estar desesperado por falta de grana.

Caixinhas de correio: nossas amigas íntimas aqui na Alemanha.

3 – Burocracias

E como a Alemanha gosta delas! Além disso, é assustador quando temos que cuidar de um monte de papelada em um idioma que não entendemos bulhufas. E nesse tópico não tem muito o que dizer a não ser: você vai ter que engolir! A Alemanha funciona realmente assim, então ou uma hora você acostuma ou vai viver reclamando da burocracia daqui.

Para conseguir se achar no meio de tanta coisa para resolver, eu sugiro pedir ajuda do seu empregador, caso tenha vindo para cá com um emprego. Muitos deles oferecem um check-list com tudo que precisa ser resolvido, assim você não fica tão perdido. Se você veio para estudar ou por algum outro motivo, converse com colegas estrangeiros que chegaram aqui antes e já passaram por essa etapa.

E se você não sabe o idioma, aconselho paciência, simpatia (mesmo quando nos órgãos públicos eles parecerem não gostar de falar inglês) e muito Google Tradutor para conferir a papelada toda e entender o que está acontecendo.

Um jantar misturadão feito em casa: comida coreada, chinesa e mexicana.

4 – Alimentação

Isso realmente não é um problema por aqui! É muito mais fácil comer na Alemanha do que nos Estados Unidos, por exemplo.

Claro, primeiro tem que ficar claro que comida nenhuma do mundo é tão deliciosa quanto a brasileira (ok, talvez a italiana?). Mas a questão é que você encontra quase tudo nos mercados, que te possibilita a continuar com uma alimentação parecida com a sua no Brasil, ou você pode descobrir sabores do mundo inteiro nos restaurantes espalhados pela cidade (mesmo em cidades pequenas, considero a variedade da oferta de restaurantes muito boa). 

Mesmo se você já leu sobre comida alemã e não gostou, existem muitas outras opções que irão satisfazer seu paladar, inclusive restaurantes ou possibilidade de encomenda de comida brasileira.

5 – Diferenças culturais

O ideal é pensar em cada país como uma pessoa diferente, que forma sua personalidade devido a uma história e todos os acontecimentos sociais e econômicos pelos quais passou.

No geral, os alemães tendem a ser mais distantes, mais independentes, e acabam esperando isso das outras pessoas também. Isso pode parecer frio e pouco acolhedor a nós brasileiros, que estamos acostumados com outras características.

Sugiro vir com a cabeça aberta para conhecer todas as características dos alemães, tanto o que você pode considerar ruim, mas também àquelas que surpreenderão. Reflita em como é interessante viver com pessoas tão diferentes e como isso influencia no dia a dia e no desenvolvimento do país. Além de tudo, o convívio com essas diferenças culturais é uma excelente oportunidade para crescer como pessoa: mantenha as características que considera válidas do seu país de origem (e no Brasil temos vááááárias) e absorva novas qualidades e hábitos da nova cultura.

6 – Vida social

Acredito que esse tópico dependa muito da sua personalidade, da personalidade das pessoas que cruzarem seu caminho e de sorte. Caso a preocupação seja pelo idioma ou cultura, sempre existem comunidades de brasileiros em todo lugar do mundo. São em torno de 1,5 milhões de brasileiros vivendo no exterior*, sendo 46 mil na Alemanha*.

Para quem é mais tímido será preciso um pouco mais de esforço, até que as novas amizades tornem-se confortáveis. Mas o ideal é que você de modo algum se isole dentro de casa.

Aprenda a sair, passear na cidade e faça alguma atividade, onde você tenha contato com pessoas: curso de alemão, pratique algum esporte (aqui tem grupos que praticam esportes gratuitamente em parques, por exemplo), vá à igreja, participe de encontros de grupos de Facebook/MeetUp. Se você não se isolar, uma hora ou outra as relações se estreitam e, quando você menos esperar, está rodeado de novos amigos.

7 – Clima

Com estações bem definidas, o clima na Alemanha pode realmente influenciar no humor e no estilo de vida. Os verões quentes sem ar condicionado podem ser um problema para os calorentos, a quantidade de pólen na primavera para os alérgicos e o escuro e frio do inverno afetam qualquer ser humano.

Algumas dicas para tentar se acostumar com o clima tão diferente do Brasil é tomar vitamina D no inverno, comprar um bom casaco e, no mais, observar como os próprios alemães aproveitam cada estação de maneira diferente. Veja as atividades que eles fazem em cada uma delas e aproveite também!

8 – Saudades da família e amigos

Nossa família e amigos são demais, né? Seria impossível morar tão longe e não sentir falta deles. A coisa boa é que a tecnologia nos ajuda muito quanto à isso, possibilitando conversas por áudio e vídeo de qualquer lugar e a quase qualquer hora (aqui a ser considerado o fuso horário, de 4 horas durante o inverno europeu e de 5 horas durante o verão europeu).

O contato acaba sendo mais superficial, claro, mas você consegue sentir-se próximo ao saber do que acontece na vida dos seus entes queridos e pela possibilidade de dividir com eles também as suas conquistas e frustrações.

É também natural que, com o tempo, você aproxime-se de amigos no seu novo país, de modo que eles substituam a lacuna que a distância da família deixa. Celebrações que antes eram comemoradas entre irmãos, primos, tios, pais e avós, agora podem ser festejadas com grupos de amigos.

A dor de deixar de participar ativamente da vida das pessoas queridas que você deixou no Brasil provavelmente vai continuar para sempre. Além disso, há aquela horrível sensação de impotência quando algo ruim acontece e você só quer estar perto, porque sabe que chamadas de vídeo ou áudios no whatsapp não serão suficientes.

Isso tudo é muito difícil. Infelizmente não há como trazer todo mundo que amamos na bagagem quando mudamos. Por isso, apesar das muitas vantagens de morar fora do Brasil, não deixe de considerar essa distância quando pensar na possibilidade de mudança.

9 – Trabalho

Aqui as oportunidades e expectativas são infinitas. Tudo vai depender dos idiomas que você fala, dos seus estudos, das experiências e dos seus requisitos para um trabalho na Alemanha.

Em Munique, onde moro, há muito emprego. A taxa de desemprego é de aproximadamente 3%, sendo que eram 33 mil desempregados para cerca de 12,5 mil vagas de emprego abertas em dezembro de 2019*. Claro que nem toda cidade tem número tão otimistas, em cidades menores pode ser um pouco mais difícil de encontrar vagas abertas.

É possível vir com visto de trabalho ou com o famoso Blaue Karte se você é formado ou exerce alguma das profissões com falta de mão de obra por aqui, como matemática, ciência da computação, ciências naturais, tecnologia e até medicina*. Para outros casos, para exercer sua profissão aqui será necessário muito estudo, como fazer um Ausbildung, um curso como os nossos técnicos do Brasil, ou até mesmo uma graduação. Claro que para isso, você também deverá comprovar nível de alemão que, dependendo do tipo de curso e da área, pode variar entre B1 e C2.

Se você quiser chegar na Alemanha e já trabalhar na sua área, isso pode exigir uma maior e mais longa preparação já do Brasil, fazendo cursos de idiomas ou economizando bastante para mudar-se para fazer algum curso para equivalência, sem a necessidade de trabalhar em outra área enquanto isso.

Se você não tem problema em trabalhar em outros setores, há maior flexibilidade, já que o mercado na área de serviços, por exemplo, tem grande rotatividade. No meu caso, vim parar na Alemanha por razão de uma oferta de trabalho ao meu marido, enquanto nos preparávamos para mudar ao Canadá. Ou seja, não tive tempo de aprender o idioma antes. Mesmo assim resolvi fazer todo o processo de tradução e apostilamento do meu diploma, para caso precisasse (nunca precisei, mas não me arrependo). Depois de alguns meses me dedicando somente ao idioma, resolvi que começar a trabalhar na área de serviços poderia me ajudar a dar um salto no idioma, já que teria contato direto com os alemães. Desde então, continuo trabalhando em alemão, mas agora, com 2 anos e 8 meses de Alemanha, já mudei de trabalho e de cargo dentro da segunda empresa, tendo um emprego melhor do que o que tinha no Brasil (meu cargo lá era Assistente Administrativo, era secretária e assistente financeiro na prática).

É tudo questão de paciência, planejamento, dedicação e um pouco de cara de pau. Se você tem tempo, vou repassar um conselho uma vez dado por uns amigos: procure o emprego dos seus sonhos por uns 2 meses. Se não encontra, vá reduzindo seus requisitos até encontrar algo.

Também dê a oportunidade para que as empresas avaliem suas qualificações, não se exclua sozinho dos processos seletivos, permita-se enviar currículos, fazer entrevistas e a empresa irá rejeitar você se achar que você não se encaixa na vaga.  

10 – Idioma

Em se tratando de Alemanha, esse acaba sendo um dos pontos mais desafiadores se você ainda não sabe o idioma. O alemão é cheio de regras e muito lógico, não serão 6 meses e nem 1 ano para aprender.

Por ser bem complexo, cada um vai sentir alguma dificuldade com o idioma. Acredito que passado o primeiro choque de morar em um novo país, o idioma é o maior e mais persistente desafio.

É ele que vai fazer você se sentir mais integrado à cultura, por isso acabamos colocando bastante pressão em nós mesmos para o seu aprendizado.

Para mim esse é o maior desafio de morar aqui na Alemanha, preciso me lembrar diversas vezes que é natural sentir-se ridículo ao conversar em alemão durante esse processo de aprendizagem. É natural ter dificuldade de se expressar e de entender os outros. É natural ficar cansado e sem paciência de vez em quando. E é muito difícil que alguém já tenha conseguido fluência em algum idioma sem sentir-se dessa forma. Essa é uma fase do processo, mas assim que conseguimos atravessá-la, a fluência estará nos esperando. 🙂

É muito importante ressaltar que, apesar das muitas dificuldades da vida no Brasil, a vida em outro país para nós, estrangeiros, é longe de ser um conto de fadas. Acredito que demora umas duas gerações até que a pessoa sinta-se realmente parte daquele lugar. É preciso muito esforço, principalmente nos primeiros anos, e é necessário acostumar-se com o sentimento de ser um estrangeiro (e aqui não falo sobre cidadania, mas sim culturalmente, sobre ser criado no Brasil).

São muitas recompensas, é claro: qualidade de vida, segurança, melhor relação entre trabalho e lazer, em muitas áreas melhores oportunidades de trabalho, além de poder garantir tudo isso também para os seus descendentes.

Por isso deixe de lado tudo que você ouviu e acredita sobre a vida no exterior ser mil maravilhas. Coloque os pés no chão, analise todos as vantagens e desvantagens e faça sua decisão de maneira consciente.

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