Imigrar é uma grande decisão, um grande passo, e isso ninguém pode negar. É por isso que sempre ressalto a importância da pesquisa e do planejamento pré-mudança. E você já imaginou a relevância dessa preparação quando essa mudança não afeta somente a sua vida, mas também a de outras pessoas que você ama e dependem de você?
Muitas famílias, compostas também por crianças, também têm o desejo de morar fora. E, nesses casos, além das preocupações que aparecem para todo mundo que quer mudar de país, ainda surgem outras, referentes à adaptação dos filhos.
Para ajudar você, que está passando por esse processo e está cheio de dúvidas, eu conversei em uma live lá no meu instagram com a Kathy, pedagoga e educadora parental, tem também no currículo uma extensão em saúde mental, migração e interculturalidade. A Kathy começou seu trabalho com crianças refugiadas ainda em São Paulo e, anos mais tarde, mudou com seu marido e filhos para a Alemanha. Atualmente, ela trabalha como pedagoga e educadora parental, ajudando outras famílias a melhor entenderem e passarem por essa transição.
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1 – Informe os filhos quando a mudança já for certa
O ideal é avisar as crianças quando não há mais o risco de a mudança de país dar errado. Dessa forma, evita-se que a criança fique confusa, caso os planos mudem. Não é preciso já ter a passagem comprada para ter a conversa, mas que já haja um período mais certo para a mudança, por exemplo, “daqui a 6 meses” ou “em fevereiro”.
Também é importante avisar com antecedência, para que a criança tenha, pelo menos, alguns meses para se preparar. Com uma data mais fixa, a criança ou adolescente consegue se preparar psicologicamente e fechar os ciclos.
2 – Observe os seus filhos para saber como abordar o tema
Pensar em camadas, pelo quanto a criança já entende, pelas coisas que ela vive no dia a dia, pelo que já faz parte da vida dela. É importante também ir falando aos pouquinhos e sentir a reação e a curiosidade da criança em saber mais informações. Dessa forma, você explica “em parcelas”, parando quando a criança se der por satisfeita.
3 – “Quem pinta o mundo para as crianças somos nós”
As crianças vão absorver as informações pela forma como falarmos. Procure mostrar coisas do lugar, algo que você sabe que seus filhos vão gostar ou que, pelo menos, já têm um interesse.
Também evite compartilhar medos e preocupações suas.
4 – Respeite a história dos seus filhos
Aceite que seus filhos não irão recomeçar ou começar a vida em outro país, eles já criaram laços e possuem uma história no lugar onde nasceram e viveram.
A criança pequena terá um rompimento com a família. Crianças de 5 a 12 anos terão uma ruptura também com amigos na escola, da rua, de alguma atividade extra-curricular, etc, além da separação (física) da família. E para jovens de 12 a 17 anos a mudança pode ser ainda mais difícil, pois acontecerão rompimentos em vários âmbitos.
Reconheça que, por mais que a história deles seja mais curta que a sua, também é uma história de extrema relevância. É toda a vida deles até agora.
5 – Envolva a criança no processo de mudança
Existem várias etapas da mudança que podem ser feitas com a participação dos filhos, por isso deixe-os disponíveis para caso haja interesse dos mesmos. Alguns exemplos são a pesquisa e escolha de um bairro, a busca de uma casa, a escolha da escola, a compra de móveis.
É importante que a criança entenda que ela também tem voz durante o processo. Por isso deixe-a fazer escolhas, mesmo que seja com opções limitadas. Isso ajuda com que ela se sintam mais envolvidas e confortáveis com a situação.
6 – Estimule o contato com amigos e familiares
Nos últimos dias no Brasil, aproveite para trocar números de telefone, e-mail e redes sociais com os amigos e familiares. Incentive o contato com as pessoas que os seus filhos mais gostam e são mais próximas.
7 – Combine atividades junto com amigos e família para criar algo juntos
Outro programa legal de combinar entre os filhos e as pessoas que são muito queridas por eles, mas que ficarão distantes fisicamente depois da mudança, é o de fazer alguma atividade prazerosa para as crianças e adolescentes, na qual eles criem algo juntos.
Eles podem, por exemplo, fazer algum desenho junto com os amigos, ou fazer uma boneca junto com os avós, pintar um quadro junto com os tios, entre outros.
Ainda nessa mesma linha, também é interessante incentivar a troca de cartas, tanto das crianças para seus entes queridos, quanto vice-versa.
Tudo isso vai resultar em pequenos objetivos com valor afetivo para as crianças levarem para a nova casa.
8 – Leve itens de transição
Separe itens que seus filhos gostam muito para levar na mudança, como uma mochila que ela já gostava muito e usava na escola para usar no novo país também.
9 – Apresente o idioma do país para a criança antes da mudança
Mostre o idioma do país para seus filhos. Aqui algumas dicas são: ouvir o alfabeto ou conteúdos diversos no Spotify, mostrar vídeos no YouTube e procurar animações, filmes, séries ou outras formas de conteúdo que os seus filhos já consumam, mas coloque o áudio em alemão.
Em alguns casos e se você achar necessário, também é interessante colocar a criança em um curso de iniciação no idioma ou em um curso regular da língua. Assim ela já chega no país com algum conhecimento, mesmo que básico, do idioma.
10 – Seja previsível
Compartilhe informações da mudança com os seus filhos, como a cidade aonde vão, quando será a mudança e como o processo acontecerá.
Quando estiverem planejadas ou já marcadas, compartilhe as datas de viagem ao Brasil ou de visitas de amigos e familiares que vocês receberão na nova casa. Uma boa dica é fazer uma contagem de dias para essas datas em um calendário na parede, para ficar bem visível.
Ainda no tema previsibilidade, se encaixa a pesquisa sobre a cidade, ver vídeos sobre como é, fazer visitas na escola onde as crianças vão estudar, visitar os locais na cidade onde a criança pode ter seu momento de lazer, entre outros. Tudo isso vai mostrar aos seus filhos, um pouco do que eles podem esperar dessas novas situações.
11 – Deixa a comunicação aberta, esteja disponível para conversar
Não deixe de perguntar e conversar com os seus filhos, perguntar como estão as coisas, questionar o que eles gostam, o que não gostam, o que gostariam de fazer nos momentos de lazer.
Dessa forma, você entende melhor como eles estão com o processo da mudança, além de conseguir informações valiosas que podem facilitar para você ajudá-los no processo de adaptação.
12 – Procure acompanhamento psicológico para as suas crianças
Em alguns casos, pode ser muito importante que a criança tenha o auxílio de um terapeuta ou psicólogo nesse momento, para que ela entenda os seus próprios sentimentos e consiga lidar melhor com as suas expectativas, frustrações, despedidas, ansiedade, etc.
13 – Aceite as frustrações e decepções dos seus filhos
Se você já sente que fez tudo o que podia e a criança ainda não aceita a mudança, talvez seja o momento de você mesmo aceitar que todos nós passamos por momentos de tristeza e frustração na vida e que você não pode privar seus filhos de vivenciar isso também.
É importante não impedir esses momentos, mas respeitar a dor da criança e usar essa oportunidade para ensiná-los a lidar melhor com esses sentimentos.
Pode ser que a criança tenha algum comportamento que já não era comum, como fazer xixi na cama, ter pesadelos ou chorar. Reconheça a dificuldade pela qual a criança está passando e ajude-a a lidar com isso.
14 – Utilize os hobbies e interesses dos seus filhos a favor da mudança
Ao observar o que suas crianças gostam de fazer, você consegue fazer combinados ou até transformar o novo país em um lugar muito interessante para eles.
Sugira caminhadas pelo bairro, conhecer os vizinhos, utilize das redes sociais para encontrar comunidades de brasileiros ou brasileiros da mesma idade dos seus filhos na sua cidade ou bairro.
A Kathy também dá um exemplo da sua própria experiência, quando diz que o filho gosta muito de jogar videogame, então os dois negociaram que se ele jogasse online com alemães, praticando o alemão, ele teria 10-15 minutos a mais de tempo de jogo.
Não esqueça de sempre perguntar aos seus filhos se tem algo que eles gostariam de fazer e considere realmente o que eles sugerirem: tomar um sorvete, ver animais no zoológico, etc.
15 – Respeite o tempo de adaptação da criança
Cada pessoa tem um tempo diferente de adaptação. Coisas que podem ser muito fáceis de adaptar para mim, podem não ser para você e é importante perceber que com as crianças também é assim.
Por isso, para quem tem mais de um filho, respeite as diferenças da adaptação de cada um, as individualidades deles. Não exija de um a mesma coisa que o outro já consegue fazer e nem trate o processo da mesma forma para ambos.
Mesmo quando parece que seus filhos estão se adaptando super rápido, pode ser que alguma coisa aconteça que seja sinal da mudança, resultado de estar morando em outra casa, vivenciando outro clima, aprendendo outro idioma, tendo que conhecer outros amigos, indo a outra escola…
Quanta dica maravilhosa, né? Eu espero que elas consigam ajudar você e a sua família no processo de mudança de país. E elas vão ficar sempre aqui para você poder consultar sempre que quiser.
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